A desospitalização de pacientes que podem ser tratados em casa impulsiona melhora no quadro clínico.
O Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) oferecido pelo Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS) tem levado dias melhores a muitas famílias da Capital. A ação é subsidiada pelo programa Melhor em Casa, do Ministério da Saúde, e tem como objetivo proporcionar ao paciente um cuidado mais próximo da rotina da família, evitando hospitalizações desnecessárias e diminuindo o risco de infecções, além de estar no aconchego do lar.
De acordo com a coordenadora do SAD, enfermeira Sandra Letícia, o programa mantém o paciente em casa, com a segurança de um hospital. “O serviço funciona da seguinte maneira: nós desospitalizamos o paciente e vamos prestando toda a assistência que ele precisa para estar em segurança em casa. Se precisa de equipamentos nós fornecemos, levamos cama hospitalar, fornecemos todo o insumo necessário para o atendimento, além da equipe multiprofissional que os atendem”, explica.
O SAD iniciou em 2010 para desospitalizar uma paciente que estava há sete meses no hospital em ventilação mecânica e sem assistência ela não poderia ir embora para casa. “A paciente que inaugurou o SAD está no serviço até hoje e nunca teve nenhuma reinternação, nem por pneumonia , que é uma causa muito comum em quem precisa de ventilação mecânica. Nunca teve sequer uma úlcera. Nós damos suporte e ela é cuidada por uma irmã”, conta.
Para fazer parte do programa o paciente precisa se enquadrar na lista de elegibilidade. Entre os pacientes estão os que têm curativos complexos, pacientes com traqueostomia, gastrostomia, uso de oxigênio, uso de ventilação mecânica, adaptação de órtese ou prótese, muitos casos.
“Um paciente que está com uma cistostomia (formação de uma abertura temporária ou definitiva na bexiga) precisa de adaptação, ele não é um paciente grave, mas vai permanecer com a doença. Então nós atendemos o paciente até que a família esteja apta a cuidar daquele dispositivo. Nós já atendemos uma gestante que estava com perda de líquido amniótico e precisava de coleta de exame, a cada dois dias, e ultrassom semanal e ficar em repouso. A equipe colhia o sangue na residência para que ela não precisasse vir ao hospital pela condição em que estava”, relata Sandra.
Duas equipes atendem pelo programa: uma multidisciplinar de atenção domiciliar (Emad), composta por médico, enfermeiro, fisioterapeuta e dois técnicos de enfermagem. Essa equipe tem rotinas e procedimentos todos os dias. A outra é a equipe multiprofissional de apoio (Emap), que conta com assistente social, terapeuta ocupacional, fonoaudióloga e atende sob demanda.
“A fonoaudióloga atende, por exemplo, o paciente que foi para casa com sonda enteral para tirar e voltar a comer pela boca. Nós acionamos a Emap para que a fono vá ao domicílio fazer os atendimentos. Somos um serviço 100% SUS [Sistema Único de Saúde], então, a maioria dos nosso pacientes tem envolvida a questão social. Às vezes, estamos vendo situações como a que a família não está acatando orientações ou a cuidadora está sobrecarregada. Aí a assistência social vai verificar a rede de apoio. No caso da terapia ocupacional também, nós avaliamos a necessidade e acionamos as equipes que ficam no SAD”, diz a coordenadora.
Dados do setor apontam que no mês de novembro 47 pacientes estão sendo atendidos pelo serviço. “Quando fecha o mês nós sempre chegamos aos 60. Tem paciente que entra, toma antibiótico por 10 dias e sai antes de fechar o mês. Ter um paciente internado é uma desestrutura muito grande para a família. Esse paciente em casa, a rede de apoio é melhor. A mãe pode dormir com a criança, o pai pode participar dos cuidados, os irmãos – se for o caso – podem estar perto. Da mesmo forma se for um adulto. Então, muda até mesmo a recuperação desse paciente” , pontua Sandra.
Redução de custos
O serviço de atenção domiciliar chega a promover uma economia de 70% nos tratamentos. Um leito hospitalar custa hoje em média R$ 500,00 por dia, para um paciente de baixa complexidade. No caso de um paciente de UTI, que precisa de equipamentos para se manter vivo, custa R$ 1,5 mil por dia.
“Temos um paciente que ficou oito meses internado, sendo dois no hospital onde nasceu e mais seis meses aqui no HRMS. Se não fosse o SAD ele estaria internado até hoje. Esse bebê precisa de ventilação mecânica porque tem condição grave. Ele no hospital custaria R$ 45 mil por mês. Pelo SAD o valor fica em torno de R$ 3 mil pelo mesmo período. Além da redução de custos há a reintegração do núcleo familiar. Imagina a mãe e seu bebê o tempo inteiro no hospital, longe da família. É uma situação muito difícil”, relata.
O paciente mais caro que existe hoje no serviço de atenção domiciliar é aquele que precisa de ventilação mecânica. Conforme Sandra Letícia, custa mais porque é preciso ir mais vezes na casa do paciente , uso de equipamentos e mais materiais. Mas mesmo assim, por mês ele custa aproximadamente R$ 3,5 mil, enquanto no hospital, internado em uma UTI, em dois dias teria gasto o valor do mês inteiro.
“A economia é muito grande. Mas não é só isso. A recuperação é muito melhor porque o paciente em casa é outra coisa. Temos pacientes que foram para casa de domicílio de cuidado paliativo exclusivo para terminalidade, que são os cuidados de fim de vida. Alguns vão para casa assim com médico apontando prognóstico de poucos meses de vida. E o que vemos é que o paciente já superou aquela expectativa, passou o tempo e continua vivo. Acredito que esse serviço também é de humanização. A assistência que a gente presta no SAD é humanizada e responsável”.
Atenção das famílias
Sandra conta que hoje as famílias tem se responsabilizado cada vez menos por seus doentes. “Antigamente quem cuidava dos doentes eram as famílias. Com a evolução da medicina, nós da saúde tiramos da família e trouxemos para o hospital. A tecnologia trouxe novidades, mas também trouxe muitos problemas. Por exemplo, o número de crescimento de pacientes de Alzheimer tem crescido muito. O que fazer com esse paciente? Ele vai permanecer internado para o resto da vida? Não pode. Mas também só devolvê-lo para casa não resolve. Então, o SAD vem fazer isso, ajudar, devolver para sua família com segurança, prepará-los para receber esse ente querido de volta ao lar”.
A gerente do SAD, Hellly Heloise Santos Duarte, conta que muitas famílias se mudam para perto do HRMS para ser atendidas pelo SAD e pondera que o município de Campo Grande tem condições de ser contemplado com mais equipes. “Se a gente pensar que temos quase um milhão de habitantes na Capital, então caberiam mais oito equipes. Infelizmente nós somos delimitados a uma área e o paciente que morar fora dela, não pode ser assistido, porque não temos condições estruturais e físicas. Outros bairros como Nova Lima, por exemplo, mesmo que o paciente tenha sido atendido aqui, não são contemplados, ou seja, moram fora do distrito sanitário e não conseguem o atendimento. O que acontece muito são os pacientes saírem das casas e mudarem para cá, na região, para receber o serviço. O atendimento é caro e muitos não tem como custear”.
Quando a família está em casa prefere as equipes lá e não quer vir para o hospital. Juliane Milene Marques, 29 anos, (foto capa) teve seu segundo bebê há cerca de nove meses. Logo que o pequeno Enzo nasceu precisou de respirador e passou por uma traqueostomia. A mãe conta que ficou pouco mais de oito meses no hospital e que precisou se mudar para receber os atendimentos do SAD.
“Morava com minha família próximo à UCDB [Universidade Católica Dom Bosco] e tínhamos a intenção de pedir o homecare, porque já fazia mais de oito meses que eu estava no hospital com meu bebê internado. Mas quando descobrimos que é um processo longo e que teríamos que ficar no hospital aguardando a decisão da Justiça, meu marido e eu decidimos mudar para perto do HRMS para sermos atendidos. Meu filho teve alta do CTI a menos de um mês, dia 25 de outubro. Nos primeiros dias foi bastante tumultuado, dá uma insegurança, mas a equipe nos acolhe muito bem, eles nos dão todo suporte. Meu bebê não ganhava peso no hospital e nesse tempo que está em casa já ganhou meio quilo. Está interagindo mais, os movimentos estão melhores. Hoje posso passar mais tempo com meu outro filho de sete anos que eu estava vendo só uma vez por semana. Então, posso dizer com certeza que é muito melhor estar aqui do que no hospital”, finaliza Juliane.
Texto e fotos: Diana Gaúna – Subsecretaria de Comunicação (Subcom)