Regional segue normas internacionais de qualidade e segurança do paciente e tem referência em hospitais como Samaritano e Albert Einstein.
Segurança assistencial e gestão de riscos são pontos importantes entre os cuidados oferecidos pelo Hospital Regional Rosa Pedrossian (HRMS) à população de Mato Grosso do Sul. A enfermeira Fernanda Alves, de 37 anos, trabalha no HRMS há quatro anos e vem tocando um dos setores que estão revolucionando o modo de pensar dos servidores ligados aos cuidados com os pacientes. O núcleo de segurança é composto pelos diretores do hospital e a gerência fica sob responsabilidade de um corpo de enfermeiros, que reportam os eventos adversos à direção que é quem ter poder de governança para discutir quais melhorias devem ser tomadas.
“Trabalhava na clínica médica e cirúrgica, como enfermeira assistencial. Nessa época, desenvolvi um projeto de segurança para o paciente que foi aprovado pela diretoria. Com isso, fui convidada a trabalhar na gerência da clínica cirúrgica e depois, em 2015, quando surgiu o setor, na gestão de risco. Aprimoramos o trabalho que já existia, de auditoria do trabalho e segurança do paciente. De lá pra cá fomos aplicando a norma ISO 31000 de gestão de risco, que adeque a identificação dos eventos adversos, dos acidentes e a investigação dos eventos adversos que ocorrem com os pacientes durante o atendimento”, conta.
De acordo com Fernanda, esses eventos podem ocorrer com qualquer profissional, mas o mais importante, que a norma ISO de Gestão diz, bem como as normas de gestão de qualidade, que seguem as normas internacionais de qualidade e segurança do paciente, é que precisam ser investigados.
“Descobrir as causas, os fatores que contribuíram e realizar ações educativas com os profissionais para evitar novos eventos. Também faz parte do processo identificar se essas falhas estão em processos mal desenhados. Os profissionais trabalham dentro das especialidades muito bem, mas não param para fazer análises dentro desses processos. Um paciente pode realizar um processo no centro cirúrgico, um na enfermaria, vai para hemodiálise, ressonância magnética, endoscopia, o laboratório realiza outros processos. Então, são profissionais diferentes tratando do mesmo paciente. E é nesse momento que podem ocorrer os eventos adversos”, explica.
De acordo com a gerente, o estudo de casos melhorou muito esses processos. Por norma da Anvisa os hospitais como o HRMS devem realizar o plano, que é obrigatório pela resolução RDC-36 da Anvisa. Ela dispõe sobre a implantação do Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e desenvolvimento de um Plano de Segurança do Paciente (PSP), com foco na melhoria contínua dos processos de cuidado e na segurança do paciente.
“A Diretoria de Enfermagem decidiu em 2015 que era necessário criar esse setor. Como a gestão do hospital é muito complexa, com dezenas de especialidades, a gerência ainda está em processo de implantação no organograma da instituição. É uma comissão que executa as ações do núcleo, formado pelos diretores que tem outras funções. A nossa é garantir as normas e o cumprimento das decisões do núcleo. Operacionalizamos o programa nacional de segurança do paciente, fazemos campanhas, ações preventivas, auditoria leito a leito, tudo com objetivo de cumprir as seis metas de segurança internacional dos pacientes”, diz.
Os padrões internacionais de qualidade têm por objetivo promover melhorias especificas e ações que garantam a segurança do paciente na prestação do cuidado, destacando as áreas problemáticas da assistência à saúde e apresentando soluções consensuais para esses problemas. Para isso seguem as seguintes metas:
- Identificação do paciente;
- Comunicação efetiva;
- Uso de medicamentos;
- Cirurgia segura;
- Higiene das mãos;
- Reduzir quedas e lesão por pressão.
Fernanda relata que ao assumir a gerência, deu continuidade às auditorias e iniciou a investigação dos eventos adversos. Cada setor recebe quatro auditorias no mês, dos processos assistenciais. As enfermeiras vão aos leitos das unidades (cardiologia, pediatria, clínica médica e outras) para saber quantos pacientes estão com pulseira de identificação, se estão recebendo cuidados adequados para prevenir lesões, para prevenir queda, cuidado adequado para medicação, conferem se esta faltando funcionários – porque aumenta o risco de eventos adversos, checa se o ambiente está seguro.
“Uma brecha de chão, uma roda travada da maca enfim, já aconteceu do paciente cair por causa disso. Esses eventos são internacionais. Hoje é obrigatório os hospitais mostrarem. A cultura de segurança diz que quem esconde não está ao lado do paciente, porque não tem como melhorar. Já quem mostra, faz ações educativas e preventivas, tornando muito difícil que aquele evento volte a acontecer de novo porque a população do hospital aprende. Então hospitais de excelência como Albert Einstein, Samaritano, são referências que a Anvisa utiliza para seguirmos os eventos”, cita.
Sistema informatizado
O sistema de gestão utilizado pelos profissionais do HRMS é informatizado e atende as normas da Anvisa em relação a segurança do paciente. Os próprios profissionais notificam os eventos adversos. “Se houver imperícia, negligência ou imprudência por parte dos profissionais, nós encaminhamos para a comissão de ética. Mas 90% dos eventos adversos são falhas do processo, ou seja, não intencionais e precisam de ações de melhoria. É possível notificar sem se identificar, mas aqui ninguém coloca anônimo. Isso já é um grande avanço, porque eles sabem que a intenção é melhorar. Desse mês foram registradas 91 notificações, das quais 74 estão avaliadas e uma finalizada. Temos todo o registro de frequência, com dados estatísticos armazenados de quase três anos”, frisa Fernanda.
No ano de 2016, a gerente apresentou um levantamento mostrando que havia áreas de processos de trabalho no vermelho, ou seja, o risco do paciente sofrer um evento adverso era altíssimo. Agora em fevereiro de 2017, a comparação dos dados mostrou que esse número reduziu mais de 100%.
“Avaliamos tudo, ambiente, luz, defeito no chão, a melhoria na soma de todo hospital. A clínica médica, que é onde ficam os pacientes críticos, tinha risco altíssimo e hoje a probabilidade do paciente sofrer alguma lesão caiu para 58%. Precisa melhorar, mas já está de parabéns porque o risco de contaminação dos medicamentos caiu, de problemas com equipamento falhar melhorou, queda relacionada ao processo de trabalho e das camas. Observamos inclusive o paciente, se ele sabe responder significa que a equipe está passando informação. Por exemplo, perguntamos se passou álcool 70 antes de colocar o acesso, o nome da medicação. Se ele falar que esqueceu nós colocamos ok. Agora se disser que não falaram, a gente anota. Perguntamos que cirurgia ele fez, precisa saber o nome, isso tudo faz parte da auditoria leito a leito”.
Placa incentiva melhorias
A gerência de segurança criou uma premiação para os setores que vem se esforçando para cumprir as normas. “Os funcionários amam receber a placa. A clínica medica recebeu em 2016 todos os semestres. Os funcionários do CTI pediátrico também aderiram as normas. Hoje temos profissionais mais valorizados e pacientes mais seguros. Coletamos os dados quatro vezes por meses para realizar ações preventivas (auditoria) e reativas (depois que o evento ocorre e a causa é investigada, o setor trabalha com ações educativas)”.
Conforme Nívea Lorena, a equipe trabalha com a construção coletiva dos procedimentos . “Apesar da gerencia ser ligada à Diretoria de Enfermagem, nós fazemos investigação de risco de forma interdisciplinar, envolvendo a todos. Somos bastante resolutivos nas etapas que o paciente precisa. As ações são mais que necessárias, porque o hospital é referência em uma gama muito grande de especialidades, com muitos paciente crônicos, graves, com dependência muito alta da enfermagem. Nosso foco de trabalho é o risco assistencial e envolve em torno de 1,3 mil profissionais entre enfermeiros e médicos”.
Entre as tarefas estão analisar e contar indicadores. Para tanto, a equipe utilizada projetos de transferência de tecnologia com hospitais como Samaritano, Albert Eistein, Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).
“As parcerias com hospitais de referência nos ajudam a melhorar os processos, usar ferramentas de qualidade e traz as possibilidades que nós temos hoje para trabalhar com os nossos recursos. Houve uma melhoria significativa, mas ainda falta bastante para chegar ao ideal. Quanto mais a gente estuda, mas vemos que é preciso melhorar. É realmente uma mudança de cultura, fazer com que as pessoas entendam que todos fazem parte da segurança do paciente, em maior ou menos complexidade. E nosso empenho não pode se perder por conta das dificuldades do dia a dia. Continuamos construindo esse conhecimento para que essa cultura faça sentido às pessoas. Temos muito orgulho de despertar no outro o interesse. Nosso foco é a solução”.
A diretora de Enfermagem avalia que as análises tem sido o diferencial da equipe. “Implementamos protocolos e o monitoramento deles, porque o dado vazio não nos diz nada. A análise desses dados é que tem feito a diferença. Implantamos o selo de qualidade para premiar os setores que tem alta adesão aos protocolos assistências e entregamos uma placa de reconhecimento. Só de a nossa equipe ter ido atrás dessas inovações já mostra o protagonismo da enfermagem. Tudo começa com interesse do corpo técnico. Poderia haver todos os protocolos no Ministério, se a equipe não se interessasse não haveria esses processos em andamento aqui. Isso representa para nós uma valorização pessoal e da profissão, além da melhorias na assistência dos nossos pacientes”.
Diana Gaúna – Subsecretaria de Comunicação (Subcom)
Fotos: Edemir Rodrigues